Oi,
Essa é a primeira edição do Orquidário e essa é uma Luana que escreve com (muito) frio na barriga. Se você está lendo este texto, quer dizer que eu finalmente tomei coragem de fazer esse jornalzinho acontecer depois de cozinha-lo por muito e muito tempo. Tempo demais.
O plano de fazer o Orquidário começou como uma ideia bonita e aos poucos se transformou em um fantasminha me persegue há mais de três anos, quando eu me inscrevi numa newsletter pela primeira vez e soube que gostaria de ter uma também. Resolvi colocar o plano em prática, e há dois anos comecei a redigir o rascunho dessa primeira edição. Mas aí você sabe né, vida muito corrida, eu precisava de mais tempo pra estudar, trabalhar, descansar, de mais tempo pra cuidar da casa, cuidar de mim. Mudança de país, trabalho, viagem, estudo, mudança de cidade, mudança de trabalho, mudança de estação, frio, calor, mercúrio retrógrado, inferno astral, dor de cabeça, dor de estômago, preciso voltar a malhar, preciso ler mais, preciso fazer backup do computador, preciso aperfeiçoar o alemão, preciso fazer amigos, e seu eu começasse a fazer aula de italiano? Também não dá, Luana, é preciso estabelecer prioridades, vai lá fazer o imposto de renda.
O tempo passou e eu comecei a traçar estratégias. Dizem que é bom falar sobre as coisas pra elas se concretizarem. Pois bem, há um ano eu falo pras minhas amigas: “eu vou escrever uma newsletter!” e o Max, coitado, não aguenta mais ouvir disso. Tudo em vão. Chegou 2022, escrevi bem grande O-R-Q-U-I-D-Á-R-I-O na minha to do list e pensei “de janeiro não passa!”. Aí eu criei um site e um email, pensei na diagramação, guardei tudo numa pasta no meu computador onde nunca mais cliquei. Nove meses depois e eu aqui, em trabalho de parto. Foi meu aniversário, fiz 26 anos. Agora basta.
Como boa procrastinadora, sei que a demora tem a ver com medo. Medo de ser desinteressante, medo de me assumir como quem escreve, medo de me expor demais e de me queimar pras pessoas que me acham legal. Medo de ser monotemática, repetitiva e ignorante, e imagina se ainda por cima a estética do e-mail ficar feia? Medo de parecer amadora demais, medo de passar uma imagem profissional demais sendo que todo mundo sabe que não tem nada de profissional aqui. Medo de cometer erros de português, medo de acabar a minha criatividade, medo da falta de ideia, de não conseguir produzir mais de três ou quatro e-mails meia boca.
O problema é que eu precisava fazer alguma coisa com essa vontade que eu tenho de escrever. Sobre isso, eu poderia dizer coisas bonitas do tipo “sonhos não envelhecem”, que o meu sonho de infância era ser escritora e colocar uma foto de um poema que escrevi aos nove anos de idade. Tudo isso é verdade, exceto que não é a verdade toda. A outra parte da história é que o Orquidário nasce de muitos conflitos que tenho desde que vim morar fora e da minha busca por conexão com as minhas origens.
Entre a Luana que passa metade do tempo trabalhando em alemão num escritório e metade do tempo escrevendo um doutorado em alemão, existe uma Luana meio perdida na personagem que tem vontade de escrever outra coisa, sem tanta regra, sem conferir o artigo, a declinação, e a nota de rodapé. Quero escrever em português, e me imbuir dessa sensação gostosa de exercer poder sobre as palavras como só a língua materna me traz. De poder brincar com as palavras e ser dona da brincadeira: a língua é minha e eu faço com ela o que eu quiser.
Quem sabe escrever aqui não me traz as respostas que eu estou procurando? É preciso dar acaso à sorte. Sobre isso me vem à mente um trecho do livro Comer, Rezar, Amar que conta uma piada italiana mais ou menos assim:
Era uma vez um homem pobre que queria ser rico. Para realizar o seu sonho, o homem ia à igreja, se ajoelhava frente à estátua de um grande santo e implorava:
– Senhor, por favor, por favor, por favor, me faça ganhar na loteria!
O homem repetiu a prece todos os dias, por meses a fio. Um dia, farto da lamúria, a estátua do santo ganha vida, olha para o homem e retruca:
– Meu filho, por favor, por favor, por favor, compre um bilhete!
Então aqui está o meu bilhete: o Orquidário.
Eu posso explicar o nome. Em 2012 eu visitava pela primeira vez o Rio de Janeiro e vi no jardim botânico uma estufa de orquídeas, um orquidário. Na porta estava escrito “orchideario” desse jeitinho, com esse português arcaico com o “ch” e o “ea”. Achei bonito e tirei uma foto. A foto é essa, que está aí em cima.
Aqui é o meu orquidário: uma estufa de temperatura amena para o cultivo. Um jornalzinho quinzenal, a cada duas sextas-feiras na sua caixa de entrada. Acho que devo escrever sobre a minha vida, coisas que eu observo, contar uns casos do dia-a-dia como boa mineira que sou. Quero ficar mais perto de você. Pra ficar engraçadinho, no final de cada edição vou compartilhar 3 verbos com conteúdos que acho legal. Afinal de contas é sexta-feira e todo mundo merece um entretenimento pro final de semana.
Espero que goste!
3 verbos
1. Para se inspirar: @samyoukilis
O Sam Youkilis é um artista italiano que tem uma das contas de Instagram mais inspiradoras que eu já vi. Ele registra pessoas comuns vivendo cenas cotidianas: uma senhora italiana falando ao telefone, um casal de namorados dando um belo beijo de língua, um cara aleatório de sunga e fones de ouvido dançando na praia. Não tem como sair de lá e não pensar que o ser humano é extraordinário. Dá fé na vida.
2. Para se inscrever: newsletter da Lena Mattar
Eu falei que há mais ou menos três anos eu me inscrevi pela primeira vez numa newsletter. Foi a da Lena Mattar, que até hoje continua sendo a minha news favorita. Ela posta receitas maravilhosas e conta histórias legais sobre comida, além de ter um site lindo com fotos “cor de pastel”, como diz o Max.
3. Para não deixar de ser engraçadinho: chihuahua x muffin
Sei lá, pra você sair daqui soltando pelo menos um risinho. É sexta-feira. E “chihuahua x muffin” nunca falha em melhorar o meu humor.
É isso, até a próxima! Obrigada por estar aqui. E depois me conte o que achou. Pode compartilhar com quem quiser também. Está aí pra todo mundo.
Com carinho,
Luana
Que alegria que vc se permitiu escrever e colocar isso no mundo, Lulu!! Que orgulho! Adorei a leitura e já quero receber a próxima cartinha. Bom demais poder te acompanhar por aqui! E que lindo se permitir essa vulnerabilidade! <3 Me inspirou!
Já quero ler livros e livros escritos por vc!